segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Listas, opiniões e critérios

E nem bem tivemos tempo de encarar o tão profetizado século XXI, já entramos em uma nova década. Esse é o momento, claro, de cinéfilos do mundo inteiro compilarem suas listas de quantos melhores quiserem, e finalmente, mesmo não tendo acesso a todos os filmes que poderiam estar aqui, dou a minha por definitiva.  Apesar da controvérsia sobre a década ter-se acabado no início de 2010, é inegável que o ano ainda tinha 365 dias para percorrer e, assim, deixar para trás dez anos completos.

Mas, bem, o que importa são os filmes que esses anos produziram, com todas as suas inversões morais, políticas e ideológicas influenciando os artistas e empresários responsáveis pelas nossas fugas da realidade através daquela janela iluminada. A ironia é que, não raro, encontramos nela um reflexo dessa mesma realidade. Muitos filmes dessa década nos deram uma visão pessimista e tristemente exata do tempo de crises diversas (moral, familiar, ambiental...) que vivenciamos. Enquanto direitos historicamente negados são concedidos a alguns, a liberdade é restringida mesmo para aqueles que sempre a tiveram. À medida que nosso poder de compra aumenta, nossa qualidade de vida e felicidade diminuem. E enquanto a ciência avança, menos pessoas tem acesso aos seus benefícios.

Nesse sentido, alguns filmes nos alertaram sobre um futuro tão assustador quanto possível, outros nos fizeram questionar nossas próprias atitudes e noções de certo e errado. Mas houve também espaço para otimismos traduzidos em pura poesia visual, para arroubos de originalidade quando se pensou que ela já estivesse morta, para a quebra de barreira com a inauguração da verdadeira terceira dimensão, e cineastas obscuros puderam ver a luz do dia, com a promessa de provar que existe vida inteligente fora do planeta Hollywood.

Há quem diga, porém, que cinema é essencialmente diversão. Outros, arte. Eu diria que um filme também pode ser veículo de críticas sociais, de autoconhecimento, de estudos de caso, de informação... Mas, como em qualquer arte (e diversão também é), há de se demonstrar o domínio de sua linguagem, pois a própria tentativa de subvertê-la, pressupõe esse conhecimento. E em muitos filmes dessa década, até mesmo um leigo como eu pôde sentir a magia de um cinema feito com paixão.

Esses são os requisitos pelos quais tentei pautar a compilação desta lista. Sem dúvida, cinema é tudo isso. Às vezes tudo ao mesmo tempo, de forma orgânica e coerente sob um único título, outras vezes com um foco específico. Disso já se pode concluir que uma lista que abranja uma década de produção, deve ser no mínimo, eclética (primeiro sinal de objetivismo, no qual logo chego), pois deve incluir todas essas características. Claro, não existem listas certas ou erradas, qualquer compilação, por si só, é válida. Minha pretensão, porém, é eleger alguns títulos segundo um certo critério, de forma a diminuir o peso do meu gosto pessoal.

Não que isso não seja importante, na verdade, qualquer tentativa de qualificar ou desqualificar uma obra, será sempre uma opinião pessoal. Mas isso também não exclui a tentativa de seguir um critério mais objetivo, de forma que a "lista ideal" seja um misto de gosto pessoal e objetivismo, pois é possível (e até frequente) não gostar de certo filme e mesmo assim reconhecer seus méritos artísticos. Esse tema poderia render uma grande postagem própria (e talvez renda), mas resumindo grosseiramente, a forma de se contar uma história deve estar a favor dessa história, priorizando sua organicidade interna e não o gosto do público.

Putz, começo a viajar, então, vamos aos filmes... (em breve:-)

Carta ao leitor (imaginário)

Acho que foi numa história em quadrinhos que li a frase: "Ninguém precisa ficar para sempre em lugar algum". Já faz um bom tempo, mas por algum motivo ela ficou me rondando, tentando transmitir sua mensagem sem que eu me desse conta: é sobre a inércia que ela fala. Eu estive por muito tempo em "lugar algum" e já estava ficando cansado de lá, por isso decidi iniciar esse blog. Não sei se alguém vai ler (além de você, meu caro leitor imaginário), muito menos se vai gostar, mas preciso aperfeiçoar minha escrita, e, unindo o útil ao agradável, espero sair dessa inércia em que o piloto automático, que liguei não sei quando, tem me levado.

Eu sempre gostei de filmes, mas foi nessa década que acabou de acabar que passei a me interessar por cinema. Não, não pretendo abrir uma sala, muito menos em "Santo Ângeles City", onde o nosso querido Cine Cisne tem se mantido a duras penas e, graças à garra de super-herói do seu capitão, parece ter se estabilizado. Não, refiro-me à arte de narrar histórias com sons e imagens. Muita gente gosta de filmes, mas poucos estão dispostos a ver cinema.

Quando surgiu o DVD, muitos amigos e colegas vinham me pedir que eu indicasse alguns "filmes bons". As locadoras já estavam cheias deles, é claro, o problema era a idéia que cada um tinha de "bom". Logo ficou claro que minhas dicas não era o que procuravam. Os pedidos foram diminuindo e as reclamações aumentando. Não que eu indicasse filmes chatos ou títulos existencialistas de cineastas russos, que necessitassem de uma cartilha explicativa para serem entendidos. Eram filmes fáceis, boa história, muitos até com bastante ação, mas todos tinham algo que a maioria parecia rejeitar: eles traziam mais que apenas duas horas de diversão descartável.

Portanto, o principal foco do blog será comentar sobre alguns filmes a que tenho assistido, pois foi lendo críticas, resenhas e comentários que aprendi a gostar cada vez mais de cinema. Serão textos amadores (não sou crítico), mas que tentarão trazer a tona qualidades e defeitos de alguns filmes que lhes permitiriam conquistar nosso gosto caso essas qualidades não passassem despercebidas. Muitos desses textos não serão resenhas e sim artigos que tentarão relacionar o lado de lá com o lado de cá das telas.

Penso estar contribuindo, assim (mesmo que modestamente), para a formação de cinéfilos melhores. Quem sabe alguém se convença a assistir a um bom filme ou ler um bom livro no horário do Big Brother Brasil. (Sim, uma esperança utópica! Às vezes tenho arroubos de otimismo, pois, apesar de essencialmente pessimista, acredito no ser humano – menos no Pedro Bial).

Outro foco serão alguns livros que li enquanto estive em "lugar algum" e que valeram a pena, bem como algumas das leituras mais prazerosas e empolgantes de uma época em que as preocupações eram mais ingênuas e os compromissos menos numerosos. Andei expandindo, no entanto, minha área de interesse e descobri autores e livros realmente bons, que, aliás, me incitaram a iniciar este blog.  

Portanto, se você é fã dos "heróis" do "jornalista" supra mencionado e não gosta do Batman ou (que esperança!) nunca ouviu falar do Sandman, nem sabe quem é Will Eisner ou William Gibson, já deve ter percebido que este não é um site legal. Mas se você os conhece e, ainda assim, acredita em tudo o que o Bial diz, bem... dane-se, você também será bem-vindo.

Enfim, como eu (não) disse no início, o blog é para mim mesmo. Suas críticas, caso seja gentil o bastante para se dar ao trabalho, serão bem vindas, mas já lhe aviso que não estou aqui para agradar. Tento apenas seguir o conselho desse video que encontrei no youtube, o qual parece trazer a mesma mensagem da frase que citei no início. Ninguém precisa ficar para sempre em lugar algum, ela diz. Nem continuar escrevendo tão mal quanto nesse texto, eu acrescentaria.
 
                                      Música: Where is my mind. Pixies